quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mais um ponto para a Cultura
Aqui postamos trabalhos desenvolvidos com a ajuda de grandes mestres e doutores da UFSC, trabalhos que visam engrandecer nossa tão vasta literatura nacional e estrangeira.
Cada comentário é um texto bem elaborado sobre obras tão ricamente escritas de nossa cultura brasileira e mundial.

6 comentários:

  1. Em Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, este livro inovador bem define o conceito de escrita-viagem. Trata-se de uma escrita em trânsito. O texto de Garrett interessa não só por revelar o que então animava a cena literária e histórica da época, nítidos traços de modernidade, mas também pela junção de passeio e descrição. Garrett nos propõe uma excursão pelos encantos, satisfações e decepções do ato de viajar, cuja escrita-viagem produz uma inovadora maneira de falar do seu tempo e do seu país.


    INDO PARA LONGE

    Thaise Zanotti.

    Madrugada, por que não dizer noite ainda? Percorro um longo caminho até meu destino. Ao sair de onde moro só vejo as luzes dos postes acessas iluminando minha trajetória. Não há mais ninguém pelo caminho, por um longo percurso, aterrador visões podem trazer à tona imaginações dormentes. Todos ainda dormem, tudo ainda dorme. A cidade fica para trás, somente a luz de alguns postes perdidos iluminam passos solitários, que poderiam em mentes mais sorrateiras não exatamente estarem sozinhos.
    Repentinamente um vasto fulgor ilumina meus olhos, recordando a longa jornada que ainda há por vir. A fala de um homem trás à tona a realidade desta quarta-feira, vinte e dois de abril de dois mil e nove, onde 10 horas serão passadas distante de velhos amores, mas mesmo com este pensamento férvido, o ânimo não me é levado para longe, pois novos amores podem surgir no dia que se segue.
    Novamente sou trazida à realidade quando surpreendida sou por braços que envolvem meu corpo com o carinho da tenra idade. Sua alegria juvenil enternece as manhãs, enquanto a jovialidade carrega as tardes. Pequenos seres que com sua inocência e pureza resgatam minhas memórias singelas e já esquecidas.
    Um brilho vermelho no horizonte faz-me lembrar que já está por findar o tempo da docilidade e carinho infantil que recebo gratuitamente.
    Indo embora já o sol, o céu tinge-se de um vermelho esmaecido advindo da desavença de Saturno e Céu. Imagino a cena, enquanto Céu ressona sobre seu leito acolchoado de nuvens, Saturno fez descer o terrível gume logo abaixo da cintura do seu pai, o soberano Céu, transformando a abóbada celestial em um rio escarlate que perdura até hoje na aurora.
    Senhor inconteste que faz a imaginação ir além. Logo adiante torna-se escuro, mostrando que mais um dia da árdua tarefa de auxiliar na ampliação motora de seres imaculados se finda.
    Seres esses que talvez tenham trajetórias tão imaginativas como de sua nobre tutora que os leva em pensamento mesmo distante de tão casto e puro coração.
    Findo meu dia com uma oração à Ordem celestial e um só pensamento perpetua minha alma enfadada, terei chance de recomeçar novamente amanhã a mais sublime das qualificações?

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  2. Em Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, este livro inovador bem define o conceito de escrita-viagem. Trata-se de uma escrita em trânsito. O texto de Garrett interessa não só por revelar o que então animava a cena literária e histórica da época, nítidos traços de modernidade, mas também pela junção de passeio e descrição. Garrett nos propõe uma excursão pelos encantos, satisfações e decepções do ato de viajar, cuja escrita-viagem produz uma inovadora maneira de falar do seu tempo e do seu país.


    IGREJA SÃO BASÍLIO MAGNO, UNIÃO DA VITÓRIA.

    ANDREA CAROLINE DA SILVA

    A viagem começa no dia dez de abril de dois mil e nove, às vinte e uma horas e trinta minutos. Destino Porto União e União da Vitória. A viagem começa tranqüila, uma sexta-feira friazinha, típica de outono. E fomos eu e mais quatro pessoas, cantamos, brincamos e cansamos, nossa eu especialmente.Foram apenas uma hora e meia de viagem, mas que bastaram para me deixar um tanto quanto zonza. Descansei um pouco, ai sim pude ver realmente onde estava, uma casa de dois andares, muito fria por sinal, mas aconchegante. Mas como estávamos todos exaustos fomos dormir, para que o sábado que já estava se iniciando, pois já passava da meia noite, fosse bem aproveitado.
    Acordei bem cedinho, animada para fazer turismo pela cidade, após o café, que na verdade não consegui tomar, tamanha era a minha ansiedade. Confesso parecia uma criança, querendo ir ao circo. Saímos por volta das nove e trinta, estava muito frio, e um ventinho piorava essa sensação. O dia não estava propício para o passeio, na verdade era um dia perfeito para ficar embaixo das cobertas, pois estava nublando, chuviscando e frio. Mas a minha vontade era maior.
    Ao olhar de longe avistei o meu destino: A igreja ucraniana de “São Basílio Magno”. Um tanto diferente das igrejas que já vi, mas era linda. Ao chegar mais perto me arrepiei, fiquei muito emocionada. Meus avôs maternos são descendentes de ucranianos, e a minha família sempre comentava sobre a igreja. Daí tamanho interesse.
    Muito imponente, nas cores branca e azul, com três torres, e vários símbolos ucranianos em sua fachada, que logo me lembraram das escritas que minha avó guarda em sua casa. Mas por um momento entristeci, pois a porta estava trancada. Pensei acabou a minha tão sonhada visita? Mas não desisti, demos uma volta e uma freira abriu uma porta lateral para nós. A alegria voltou, entrei e novamente me arrepiei esplêndido. Entramos diretamente no altar, que tinha um tapete vermelho, e essa cor era predominante nas pinturas das paredes. O altar era todo feito de madeira trabalhada, com desenhos de pessoas adorando a animais, a meu ver esse animal era uma ovelha, e muitas uvas percorrendo todo altar. Mas fiquei maravilhada ao ver as paredes. Muito coloridas, um jogo de cores que nos deixou paralisados. Havia muitas formas, triângulos em todas as partes, flores em formatos diferentes, as linhas são mais retas, sem muitas curvas, e há presença de várias cruzes. A primeira coisa que me veio à cabeça ao adentrar, foram as Pêssankas, são os ovos de Páscoa pintados pelos ucranianos, que são assim também, coloridos, belos, alegres e cada pintura tem seu significado e objetivo, o principal é a proteção
    Em cima do altar há uma cavidade, que traz a claridade para a igreja, dentro dessa cavidade há varias pinturas também, como a Santa Ceia que contorna toda a parede interna. Há ainda um céu azul estrelado, com uma cruz no centro e uma pomba branca, belíssima pintura. No corredor há vários lustres com cristais, o chão do restante da igreja é todo em azulejo escuro, mas primando pelas formas triangulares. As torres vistas pelo lado de fora, agora dentro da igreja, são fendas onde entra a luz, e também pintadas como no altar. Fui informada que as torres ficam nessa direção, pois estão voltadas para Jerusalém.
    Mas meu encantamento deteve-se nas pinturas, foram apenas dez minutos, mas que me marcaram para o resto da vida. A volta para casa foi rápida. E a primeira coisa que fiz ao chegar, foi pesquisar o porquê de tais cores e formas presentes em todas as pinturas da igreja. E resolvi pôr nesse relato o meu resultado da pesquisa.

    “Figuras de triângulos: Símbolo da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; homem-mulher-criança; nascimento-vida-morte e outros significados do número 3. O triângulo com um círculo no centro simboliza o olho de Deus. Simboliza a luz, o fogo, a força, a beleza, a sabedoria divina e a manifestação de Deus na Terra. Significa algo muito firme em sua base. Quando está com o vértice voltado para cima, representa o fogo, a energia masculina e com o vértice para baixo, a feminina.”

    REFERÊNCIAS

    KOTVISKI, Vilson José, SLIWINSKI Oksana Pêssankas http://www.girafamania.com.br/europeu/materia_ucrania.htm acesso no dia: 19/04/2009.

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  3. Fichamento

    SIRLEI ANTUNES DALAZEN

    A Leitura e seus Níveis1
    O que é leitura?2 1 0
    MARTINS, M. H. O ato de ler e os sentidos, as emoções e a razão. In: ______. O que é leitura? 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 37-813.

    Um dos principais objetivos da leitura é a compreensão do texto escrito. Martins destaca três níveis básicos da leitura: sensorial, emocional e racional. “Os três níveis são inter-relacionados, senão simultâneos, mesmo sendo um ou outro privilegiado, segundo a experiência, expectativas, necessidades e interesses do leitor e das condições do contexto geral em que se insere.” (pg.37). Nossas leituras são realizadas através de sentidos, emoções e inteligência. A intenção de Martins nesse texto é da aproximação dos níveis básicos da leitura.
    A leitura sensorial engloba o ato da visão, do tato, da audição, do olfato e do gosto. Estes que são referências muito importantes no ato de ler. Iniciada muito cedo nos acompanha por toda vida e nos faz conhecer o que gostamos ou não. Martins comenta que “a leitura sensorial tem um tempo de duração e abrange um espaço mais limitado, em face do meio utilizado para realizá-la - os sentidos. Seu alcance é mais circunscrito pelo aqui e agora; tende ao imediato”. (pg 81).
    A leitura quando passa a nos trazer alegrias, tristezas, interesses e criatividade, deixa de ser sensorial e atravessa para o nível emocional. Lida através de sentimentos envolvendo muito a questão emocional. Através dessa leitura trabalhamos nossa imaginação nos levando a conhecer situações, ambientes, pessoas... Muitas vezes descobrimos senas gravadas em nossa memória que com o passar do tempo torna referência em nossa vida. Na leitura emocional ocorre a tendência de sentir-se como se estivesse vivendo a situação que avista. A leitura transporta nossas imaginações e o leitor se deixa envolver pelo texto que se desperta. Como por exemplo, o que ocorre ao assistir um filme, uma reportagem ou até mesmo lendo um livro, tudo o que nos desgosta ou agrada são decodificados de uma maneira. Martins fala que “a leitura emocional é mais mediatizada pelas experiências prévias, pela vivência anterior do leitor, tem um caráter retrospectivo implícito; se inclina, pois, à volta ao passado.” (pg 81).
    Agimos assim porque temos motivos intelectuais para isso. E aí entramos em outro nível: o racional, o qual enfatiza que a leitura se concretiza por meio de textos escritos quanto de expressão oral. Martim coloca que a leitura racional é certamente intelectual. Na leitura racional visa mais o texto escrito e procura cada vez mais compreendê-lo. Um dos aspectos mais comuns identificados nesse estilo de leitura que é a narrativa. Martins destaca ainda “Leitura racional tende a ser prospectiva à medida que a reflexão determina um passo à frente no raciocínio, isto é, transforma o conhecimento prévio em um novo conhecimento ou em novas questões, implica mais concretamente possibilidades de desenvolver o discemimento acerca do texto lido.” (pg 81).
    A partir daí, não há interação havendo ausência no ato de um dos níveis da leitura. A condição humana necessita da sensação, emoção e razão, tanto na busca de se expressar como no comprometimento a si próprio e do mundo. Martins encerra colocando que a leitura sensorial atende ao imediato. A emocional se destaca pelas experiências prévias e a racional transforma o conhecimento prévio em novas questões. Essas leituras permanecem por toda era humana destacando a interação entre sensações, emoções e pensamentos.

    [O autor revela que a leitura na era humana existencial não acontece com a ausência de quaisquer um dos níveis, afinal, o homem é dotado de inteligências emocionais, racionais e sensoriais].

    [Martins expõe uma compreensão sobre os níveis da leitura e de certa forma parece não contrariar ao pensamento de Paulo Freire, no que é possível a realização da leitura de mundo.4]

    Biblioteca Universitária da UFSC

    1 Título Genérico. Fichamento realizado por Sirlei Antunes Dalazen como atividade de avaliação da disciplina de Produção Textual Acadêmica I, ministrada pelas professoras Diva Zandomenego e Mary Elizabeth Cerutti Rizzatti, no Curso de Letras EaD da Universidade Federal de Santa Catarina, em maio de 2008.
    2 Título Específico.
    3 Referência completa do texto-fonte.
    4 FREIRE, Paulo. O ato de ler. 47. ed. São Paulo: Cortez, 2006 [1992].

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  4. Em Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, este livro inovador bem define o conceito de escrita-viagem. Trata-se de uma escrita em trânsito. O texto de Garrett interessa não só por revelar o que então animava a cena literária e histórica da época, nítidos traços de modernidade, mas também pela junção de passeio e descrição. Garrett nos propõe uma excursão pelos encantos, satisfações e decepções do ato de viajar, cuja escrita-viagem produz uma inovadora maneira de falar do seu tempo e do seu país.

    PEDAÇO DE MEU CHÃO-RETALHO DA HISTÓRIA

    DENIZE MARIA CECATTO BEE.

    Toda viagem começa no momento em que decidimos fazê-la. O preparo psicológico para possíveis eventualidades ou pessoas que vamos encontrar, ou ainda situações que podemos ter que enfrentar, é quase instantâneo e inevitável. Assim sendo resolvi fazer uma viagem no passado e visitar o Túnel Ferroviário e a Cruz em Honra as Vítimas do Zeca Vacariano, ambos encontrados em Pinheiro Preto às margens do Rio do Peixe; carregando na bagagem as histórias que os moradores mais antigos ainda contam a respeito da construção da estrada de ferro. São lendas, crendices e fatos reais que nos ajudam a compreender como se deu essa verdadeira epopéia no interior de Santa Catarina.
    A saída dessa aventura se deu às margens do Rio do Peixe, na linha férrea já desativada, mais propriamente dito, ao lado direito do rio. Deixei pra traz a ponte Humberto Bresolim e o Paiol do Nono, uma homenagem aos colonizadores italianos que fundaram a vila que hoje é município, mas que na verdade só teve início devido à construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul. O próprio nome Pinheiro Preto teve essa designação devido a um pinheiro altaneiro, muito comum no início do século XX, nessa região. Esse pinheiro não se sabe ao certo se sofreu uma ação da natureza com a queda de um raio, ou se alguma fagulha de uma locomotiva teria causado as chamas que o queimaram completamente, sobrando apenas seu caule e seus ramos enegrecidos pelo carvão, destacando-se em meio à mata. Para que fosse facilmente descrita a estação de trem naquele lugar ermo começaram a chamar de estação do pinheiro preto, ficando assim batizado o nome desse pequeno município cravado nas margens do rio do peixe entre as montanhas. Uma típica cidadezinha interiorana de colonizadores italianos e alemães. Enquanto revivia esse momento histórico, já tinha andado um bom trecho de estrada de ferro, tendo à minha direita a cidade e a minha esquerda o rio incansável em sua rotina. A falta de uso da estrada férrea faz com que o mato crescesse e em diversos trechos dificultando inclusive a passagem, tendo que sair dos trilhos para continuar adiante. O trecho até o túnel é de quatro mil metros aproximadamente, do ponto de onde parti, sempre serpenteando o rio.
    Deixando-me levar pela solidão e pela nostalgia que a estrada me inspirava, deixei meus devaneios submergirem nas lembranças das histórias que ouvi diversas vezes, contadas por moradores antigos. Podia ouvir ali naquele lugar deserto, o barulho dos trilhos de ferro sendo colocados manualmente sobre os dormentes de madeira, num esforço desumano, correndo contra o tempo, contra as adversidades e as limitações humanas para entregar a obra no prazo, e ouvir o ritmo cadenciado de um exercito de oito mil homens, recrutados para dar cabo da obra. Ouvir o barulho das picaretas batendo nas pedras, das enxadas raspando o solo, dos carinhos de mão chiando sobre os trilhos já prontos, o estrondo de pedra dinamitada e o cheiro de pólvora misturado ao de suor dos homens, pairando no ar. Aqueles homens quase animais, isolados do resto do mundo, esquecidos ali na mata cerrada, abandonados à sorte, sem comunicação com outras pessoas a não serem os próprios colegas de serviço. Quanta penúria devem ter sofrido esses trabalhadores para construir cada trecho dessa estrada. Eram oito mil homens recrutados nos bairros pobres do nordeste, sudeste e até mesmo das prisões. Era gente de toda espécie de índole. Depois que terminaram a construção muitos deles voltou para seus destinos, mas muitos deles ficaram vagando pelos matos sem serviço e sem dinheiro, o que tempos depois resultou na revolta do Contestado. Bom mas isto já é outra história. No inicio do século, esse pedaço de chão era apenas mata virgem compostas principalmente de araucárias, havendo pouquíssimas vilas e bem isoladas. Essa estrada era sinônimo de progresso para o interior do país e durante sua construção muitos desses operários morreram vitimados muitas vezes por acidentes do trabalho que não tinha nenhuma segurança, sendo estes enterrados ao longo da linha férrea. Os mais antigos contam que a alguns metros do túnel está o cemitério destinado aos funcionários mortos, mas que agora está abandonado em meio ao mato.
    De repente um frio percorreu minha espinha. Contam tantas histórias de almas penadas, não que eu acredite nisso, mas ali sozinha num lugar completamente isolado, as sensações tornam-se mais afloradas, e ai! Um barulho às margens da ferrovia me pôs em alerta. Na verdade era apenas uma gralha azul que voou de um pinheiro por perto.
    Já me aproximava do Túnel, e a rusticidade da construção vista assim de longe revela a ousadia do ser humano diante da natureza. A imponência da obra esculpida na rocha, quebrando o relevo, dá a idéia do esforço que fizeram esses homens, sabendo-se das condições precárias que tinham para desenvolver seus trabalhos. Na parte frontal pode-se ver a inscrição da data de conclusão da obra: mil novecentos e nove, e no centro da base superior, o desenho em relevo de um caixão fúnebre, em homenagem as vítimas da construção da estrada. Quando toquei na rocha fria, senti uma energia muito intensa, não sei se gerada pela frieza da rocha, ou pela obra carregar a energia de tantas histórias, tanta dor e sofrimento. Dentro do túnel de cem metros, o chão é úmido, e se não fosse pela outra abertura, a sensação era aterrorizante. Então fechei os olhos para poder sentir essa instigante sensação. Senti medo, porque o ar úmido e frio, o chão encharcado sobre meus pés, o barulho dos meus passos em contato com a lama e o deslocamento de nível entre os dormentes, alternados com o som do vazio, do nada, deixava uma sensação de desconforto, de impotência. Para aumentar ainda mais minha produção cinematográfica mental, imaginei o trem se aproximando, e eu sem ter onde escapar. Sem que me desse conta, apressava meus passos quase correndo alcancei o outro lado do túnel, e eis que me pego rindo de mim mesma, e de minhas atitudes.
    Chegando ao monumento mais famoso das redondezas, a Cruz em Homenagem as Vítimas do Zeca Vacariano pude compreender a importância isso tem para a história do município. Primeiro vou relatar quem foi Zeca Vacariano. Este foi o protagonista do primeiro assalto a um trem pagador da história do Brasil. Na verdade não era exatamente um trem, mas mulas que traziam o pagamento dos inúmeros operários da construção. Zeca Vacariano era um taifeiro responsável por um trecho da estrada, e sem dinheiro para pagar seus funcionários, juntou uma turma de homens que assaltaram o grupo que transportava o dinheiro. Durante a batalha, o grupo de Zeca Vacariano que era bem maior, assassinou três seguranças do grupo que transportava o dinheiro. O monumento solitário a beira dos trilhos, foi construído exatamente no local onde ocorreu o incidente e onde foram sepultados os três homens. A cruz é construída de trilhos férreos retorcidos, o que aumenta mais sua autenticidade. Está disposta sobre uma base de concreto e pedras, e o espaço está do jeito que foi construído há muitos anos, mantendo-se a rusticidade.
    Sentada em frente ao monumento, em silencio em honra aos falecidos, me pus a imaginar a dor desses homens valentes e determinados que conseguiram erguer uma estrada de tamanha grandeza e importância, e que hoje está abandonada. A estrada e o monumento completam neste ano seu centenário. Um momento para refletir sobre a grandiosidade e ousadia desses homens que trabalharam para construir todo esse empreendimento, e que contribuíram para o surgimento de Pinheiro Preto. Respirei fundo, fechei meus olhos, abri meus braços, ouvi a voz da natureza na canção do rio, e por um instante me senti orgulhosa por estar aqui.

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  5. Elabore um comentário sobre Lisístrata, comparando as personagens femininas com a letra de Chico Buarque e Augusto Boal

    DENIZE MARIA CECATTO BEE

    Ambos os textos retratam a força feminina. Em Lisístrata a atitude de mudança parte delas mesmas, isto é, de dentro para fora. A iniciativa que para os homens era vista como pretensão, para elas era uma ousadia conseqüente. Numa atitude corajosa, então cansadas do desprezo e diante da possibilidade da mudança de atitude dos homens, num ato atrevido dão um basta ao conformismo e à servidão. O homem era o símbolo do poder, e as mulheres nessa atitude de rebeldia, manipularam o poder de forma inteligente. Descobriram então o poder que elas possuíam.
    Na letra de Chico Buarque, o alerta vem de fora para dentro. Não parte das mulheres a atitude de mudança, mas de outra pessoa. Uma terceira figura entra em cena para advertir as mulheres atuais que nelas também reside a mesma força que as mulheres de Atenas possuíam. Parece querer despertar nas mulheres um comportamento menos submisso e de maior reação. A melodia eu desconheço, mas acredito que seja suave, mas quanto à mensagem que Chico Buarque quer repassar, ela é gritante.
    Essa é a palavra: Reação. Parece que Chico Buarque repete as palavras de Lisístrata: “Saiam dessa casca grossa que as envolve”. Sempre é o momento certo de acreditar nessa força, basta abrir os olhos além da visão externa

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  6. RESENHA

    AMOR PLATÔNICO?

    DENIZE MARIA CECATTO BEE

    Alvarenga Peixoto é considerado um poeta pouco expressivo da era neoclássica. Restaram poucas obras de sua autoria porque a maior parte delas acredita-se terem sido confiscadas quando de sua prisão pelo envolvimento com a revolta da Inconfidência Mineira. Algumas de suas poesias enaltecem o Marques de Pombal, e outras completamente contrárias assumem uma posição de crítica diante da política imposta sobre a Colônia. A produção considerada pelos críticos como destaque é a lira Bárbara Heliodora e o soneto Estela e Nize, que se tornaram muito populares. À Alvarenga Peixoto também se atribui o lema da bandeira da inconfidência LIBERTAS, QUAE SERA TAMEM, que é na verdade um verso do poeta Virgílio, precursor do arcadismo.
    Entre suas obras, escolhi o poema 21, retirado do texto literário, encontrado na edição de referência “A poesia dos Inconfidentes”, onde o poeta faz uma verdadeira declaração de amor à sua amada, Bárbara. Alvarenga a define como guia de seu destino, comparando-a com a estrela do norte, dando uma noção de grandeza da importância que a musa representa em sua vida, a ponto de sentir-se desnorteado e isolado quando de sua ausência; mas vai a exaustão do cansaço da vista a fim de procurá-la, mesmo que o desejo e a esperança pareçam se perder no desespero. Admite então, que talvez seja castigo por sentir tanto amor, mas mesmo assim não deixa de sonhar com noites e dias todinhos reservados para ele e sua amada.
    A impressão que se tem ao desvendar esse poema é de um grande amor, talvez não correspondido, mas também com a possibilidade de estar se redimindo de algo que parece mais com um pedido de perdão, ou também um amor de grandeza que amedronta e que o poeta guarda para si. O desejo de ter-la é grande e ele não nega, muito pelo contrário, é claro e objetivo quanto as suas convicções. Ele busca incessantemente agradar sua amada, brindando-a com fartos elogios usando uma linguagem metafórica.
    As poesias tinham muito apelo sensual e erótico, porém contidos nas palavras que se transformam em metáforas, ou então podemos lê-los nas entrelinhas, o que deixa o poema com certo ar de mistério.

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